O significado da castanheira (Teminalia catappa) na orla de Vila Velha: desafios ambientais e sua importância para a cidade. 

Autor: Ricardo Motta Pinto-Coelho 
RMPC - Meio Ambiente Sustentável 
Resumo
 

O estudo faz um mapeamento da vegetação arbórea ao longo das praias na zona central do município de Vila Velha (ES). Uma área equivalente a 3,33 km² e uma extensão de 9,2 km foi mapeada com imagens de alta definição obtidas por um drone. A castanheira (Teminalia catappa) destacou-se como o elemento mais importante da arborização da orla litorânea. O estudo traz ainda um balanço entre os impactos ecológicos causados por espécie exótica para a vegetação nativa (restingas) e os inúmeros serviços ambientais prestados pela castanheira na área estudada. Esses serviços são desfrutados não somente pelo cidadão, mas também por representantes da fauna nativa, seja ela de vertebrados ou mesmo de invertebrados que habitam a área. Além de sugerir algumas medidas objetivas a curto prazo a serem adotadas pelos gestores da cidade, o estudo conclui que as castanheiras devem ser reconhecidas como um dos elementos centrais da arborização urbana das orlas litorâneas das cidades situadas na zona tipicamente tropical brasileira.  

Introdução

O município de Vila Velha possui 210 km2 de extensão territorial, com cinco regiões administrativas e 92 bairros. As áreas urbanas do município atingem 67,9 km2, ou seja, cerca de 32% da área territorial do município. As demais áreas do município são formadas por áreas rurais e de extensão urbana. O site IBGE cidades estima uma população de 501.325 hab. para a cidade de Vila Velha (2020).  

O relevo predominante é plano, com uma altitude média da sede de 4 metros acima do nível do mar. A vegetação original e predominante no município é a mata atlântica, tendo também alguns trechos de restinga e ilhas que pertencem ao seu território.  
Vila Velha possui 32 km de litoral, que é banhado pelo o Oceano Atlântico. Desse total, aproximadamente 24 km são destinados a praias, onde é permitido o acesso a banhistas. A orla balneável de Vila Velha tem ao todo pelo menos 15 praias (Tabela 1). Na zona central de Vila Velha, a maioria delas está situada na orla do oceano Atlântico, mas algumas estão situadas na entrada ou ao longo do canal de Vitória. Outras quatro praias encontram-se fora da zona central e estão situadas ao longo de unidades de conservação ou em bairros mais afastados.  

Tabela 1. Lista das praias de Vila Velha (ES), com a indicação das praias incluídas no presente estudo.
No presente estudo, foi estudado um trecho de aproximadamente 9,18 km englobando as seguintes praias: praia das Sereias, praia da Costa, praia de Itapoã/Beverly Hills, praia de Itaparica, Praia das Gaivotas e um pequeno trecho de praia dentro da reserva ambiental de Jucurenema. 

O levantamento da cobertura de vegetação na orla de Vila Velha foi feito através de um mapeamento aerofotogramétrico com auxílio de com um veículo aéreo não tripulado VANT – (drone) da marca DJI, modelo Mavic Pro. Foram realizados 8 sobrevôos entre os dias 30/11/2020 e o dia 04/12/2020.
 
Cada sobrevôo gerou um arquivo com toda a telemetria contendo dados de coordenadas geográficas, velocidade, direção, altitude e dados sobre uso de bateria, rotação dos motores, velocidade horizontal e vertical. Todas essas informações estão disponibilizadas no relatório contendo as fotos individuais e os arquivos georreferenciados contendo as fotos alinhadas.  

O planejamento dos sobrevoos foi feito usando o aplicativo Google Earth, onde foi gerado um polígono vetorial contendo a área de interesse. A seguir, esses dados foram exportados, no formato "kml", para o aplicativo Drone Deploy. Novos ajustes foram feitos observando, por exemplo, o gerenciamento das baterias e a facilidade de acesso ao ponto inicial.  

A atualização necessária para a realização dos procedimentos de operação do drone Mavic sempre foi feita na véspera de cada voo com o aplicativo DGI Go 4. 

Após a realização de cada voo, foi feito o processamento das imagens obtidas com auxílio do aplicativo AGISOFT METASHAPE professional versão 6.1 (Agisoft PhotoScan. 2018).
Figura 1 – Criação de um arquivo vetorial shapefile (abaixo) contendo os polígonos das copas das castanheiras a partir de um ortomosaico contendo as imagens obtidas pelo drone Mavic-Pro (acima). Dada a alta qualidade da imagem, foi possível delimitar precisamente a área das copas, separando-as das suas respectivas sombras.
Resultados  

Entre os dias 30 de novembro e 04 de dezembro foram realizadas oito campanhas de sobrevoos com o drone Mavic-Pro, ao longo das principais praias da orla marítima de Vila Velha. Um total de 1.131 imagens foi obtido, com uma resolução média (no solo) de 4,62 cm/pixel (Tabela 2).   

Tabela 2. Síntese dos parâmetros dos sobrevoos realizados com um VANT na orla de Vila Velha (ES) entre os dias 30/11/2020 e 02/12/2020.
A área coberta total foi de 33.520 hectares (3,352 km²). A altitude média de voo, foi de 152 metros (altitude inicial de 120 metros). O erro médio na componente horizontal (XY) foi quase sempre menor do que 1,0 metro o que garantiu uma boa precisão para o alinhamento dessas imagens e a construção de ortomosaicos. 

Um total de 453 indivíduos de porte arbóreo de T. catappa foi mapeado ao longo da orla das praias estudadas. O somatório dos perímetros das copas dessas árvores chega a 13.621 metros e o somatório das áreas das copas chega a 31.886 m² (3,18 hectares).

Os cartogramas abaixo ilustram a ocorrência, perímetro e áreas das copas dads castanheiras em alguns trechos da orla de Vila Velha (Figs. 2,3 e 4).
Figuras 2,3 e 4 - Ocorrência da vegetação arbórea em alguns trechos da orla da região central de Vila Velha (ES).
O mapeamento das castanheiras ao longo da orla de Vila Velha pode ser visto nos cartogramas representados nas figuras 2,3 e 4. As figuras mostram os diferentes arranjos espaciais da distribuição das copas das árvores ao longo da orla de praias estudada.

As maiores concentrações das árvores foram encontradas em alguns pontos da Praia das Sereias, praia da Costa e na praia de Itaparica.  

O perímetro das plantas variou entre 7 e 79 metros e área da cobertura foliar (copas) variou entre 1 e 373 m². O perímetro médio das copas dos indivíduos foi de 30 metros e a área média de suas copas foi de 70, 2 m².
Figura 5 - Distribuição das áreas das copas das castanheiras no transecto estudado (acima). Relação (não linear) entre os perímetros versus as copas das castanheiras na orla de Vila Velha (abaixo).
Há uma relação não linear entre perímetro e a área das copas das árvores o que revela que a medida que a árvore cresce, a área de sua copa vai proporcionalmente ficando ainda muito maior. Essa característica é muito importante para as estimativas do conforto térmico gerado por árvores adultas, se comparadas com os coqueiros, por exemplo (Figura. 5).  

 Foi visível verificar uma maior concentração de pessoas, da infraestrutura de lazer (quiosques, quadras, equipamentos para a prática de ginástica, etc.) em locais onde há uma maior concentração das castanheiras.  

Conservação das APPs na Orla de Vila Velha
A equipe do novo prefeito (Prefeito Arnaldinho Borgo, Coligação PTC / SOLIDARIEDADE / PODE), que assumiu a prefeitura de Vila Velha 2022, vem implementando um grande projeto de revitalização da orla central de Vila Velha que inclui a recuperação das restingas, o plantio de espécies nativas e também a preservação das castanheiras além de uma repaginação e melhor adequação dos múltiplos usos da orla.

Trata-se de um projeto que tem obtido forte apoio da população e que emprega conhecimentos ecológicos e técnicas apropriadas de manejo ecossistêmico e sobretudo respeita os anseios da população local.

A seguir, algumas fotos dessa projeto que é pioneiro e certamente é um exemplo a ser seguido por outras administrações municipais em todo o Brasil.

Agosto 2021
Julho2022
Fevereiro2022
As restingas possuem uma grande resiliência. Trata-se de um ecosssitema que se recupera com relativa rapidez. O estrato herbáceo ocupou todos os estandes isolados do pisoteamento em menos de seis meses, mas as espécies nativas arbóreas exigem mais tempo e cuidados especiais.
A instalação de equipamentos urbanos, tais como passarelas, play-grounds para crianças, equipamentos para ginástica e locais para ambulantes foi muito bem-vinda pela população
ANTES
DEPOIS
A parceria com a inciativa privada, atraindo patrocínios tem sido muito bem articulada pelo atual prefeito.
As ciclovias são um destaque da orla de Vila Velha e com a construção da ciclovia sobre a terceira ponte, interligando as ciclovias de Vila Velha à malha de ciclovias de Vitória, os habitantes e turistas irão desfrutar em breve de uma das maiores redes de ciclovias do Brasil.
A presença de faixas protegidas por vegetação de restinga (mesmo em estágios sucessionais pioneiros) protege ruas, avenidas e as casas de danos causados por ressacas e por marés excepcionalmente mais elevadas. Essa ação torna-se ainda mais importante tendo em vista o aumento do nível dos mares em decorrência das mudanças climáticas globais.

Cortesia: Instituto Água Sustentável

Página criada por Ricardo Motta Pinto Coelho em 01 de Julho de 2022