INTRODUÇÃO
O homem e as águas das restngas capixabas
Introdução - O litoral e o homem
 
Dentre todos os ecossistemas aquáticos do planeta, as zonas litorâneas destacam-se como sendo aquelas submetidas aos maiores impactos ambientais causados pelas atividades humanas (Pinto-Coelho & Havens, 2015). Extensas áreas litorâneas da América do Norte, Caribe, Mediterrâneo, extremo oriente e Oceania (Austrália) estão fortemente comprometidas com a ocupação humana: intensa urbanização, extração de petróleo, grande concentração de redes e infra-estrutura de transportes, intensa atividade de turismo e de lazer são algumas das principais atividades humanas responsáveis por essa tensão ecológica sofrida pelas áreas litorâneas. Muitas das principais cidades do mundo estão situadas nessa estreita faixa de terra (vide figura abaixo): Rio de Janeiro, New York, Tokyo, Los Angeles, Tel Aviv, Barcelona, Cape Town, Sidney, etc. 

Os ecossistemas localizados nas regiões litorâneas são caracterizados por elevada diversidade e grande endemismo (possuem espécies que só ocorrem nessas áreas) além de constituírem-se em ecossistemas com importantes funções reguladoras. São áreas propensas a sofrer grandes oscilações e flutuações advindas do ciclo das marés. Essas regiões estão continuamente expostas a tormentas provenientes dos oceanos.

Os estuários apresentam características funcionais únicas dentre todos os ecossistemas aquáticos. Essas áreas são importantes como “berçários” e são imprescindíveis para a reprodução de centenas de espécies de peixes, plantas e de outros tipos de microorganismos. Elas atuam como “sistemas tampão” impedindo que os efeitos de tormentas e outros eventos climáticos oriundos dos oceanos se propagem pelo continentes adentro. Por outro lado, os estuários e manguezais são exportadores de nutrientes para outros ecossistema marinhos, tais como os recifes de corais. 

Apesar de constituírem-se em sistemas altamente adpatados às flutuações climáticas e ambientais, com grande resiliência e resistência às intempéries naturais, as áreas litorâneas demonstram também uma grande fragilidade ambiental já que são facilmente perturbadas e, muitas vezes, de modo irreversível pelas atividades humanas.



O que são as restingas?

As restingas formam um ecossistema que abriga diferentes comunidades vegetais, resultado de um longo processo evolucionário que foi moldado por uma série de fatores biogeográficos, climáticos, geológicos e oceanográficos. Uma das principais características ecológicas dessas comunidades consiste no fato de que elas se sustentam a partir de solos arenosos, muito pobres em nutrientes. Essa caracterítica confere aos diferentes biótopos das restingas uma grande fragilidade ecológica, baixa resiliência e uma fraca resistência para enfrentar os muitos impactos antrópicos que esses ambientes enfrentam atualmente. 

As restingas são formações vegetais caracterizadas por apresentar aspecto de mosaico. Segundo Rocha el al (2015), as restingas capixabas podem ser classificadas em onze comunidades vegetais, sendo as formações arbustivas abertas as mais comuns e confirmam a classificação proposta por Pereira (1990a) que distinguiu 11 formações vegetais nas restingas do Parque Estadual Paulo Cesar Vinha, uma das poucas restingas ainda bem preservadas do estado: Halófila, Psamófila-reptante, Pós-praia, Palmae, Mata de Myrtaceae, Mata Seca, Mata Perio-dicamente Inundada, Mata Permanentemente Inundada, Brejo Herbáceo, Formação Aberta de Clusia e Formação Aberta de Ericaceae.

A fonte dos sedimentos das restingas é a Formação Barreiras (Barcelos et al. 2012). A paisagem das águas epicontinentais das restingas envolve a desembocadura de rios de diferentes tamanhos. Os estuários e lagunas são frequentemente encontrados ao longo da linha de costa e se integram às restingas. A denominação estuário, deve-se a qualquer corpo d´água costeiro, semifechado ou em contato com o mar aberto. Os estuários são normalmente influenciados pelas marés promovendo a mistura de água doce com salgada gerando um gradiente de salinidade.

A laguna é um declive da costa, estando abaixo do nível das marés mais baixas, mantendo com o mar uma conexão permanente ou apresentando surgimento após chuvas, com duração de pouco tempo. Assim, o estuário e laguna são ambientes costeiros de transição estando influenciados tanto pelo continente, através da água doce, como pelos agentes marinhos (Souza et al. 2005). 

Segundo Araujo (1992), a ausência de dados ecológicos e fisionômicos de diversos trechos do litoral brasileiro e a falta de consenso sobre o que constitui a vegetação sobre as planícies costeiras arenosa são as maiores dificuldades na determinação de um sistema de classificação dos tipos vegetacionais que seja adequado para toda a costa brasileira. É evidente que o mesmo pode ser dito em relação aos recursos límnicos presentes nesses ecossistemas. 





Objetivos do Atlas

O presente estudo pretende, portanto, contribuir para propor uma tipologia das águas epicontinentais das restingas capixabas. Os seguintes objetivos são  propostos: 

1- Realizar um levantamento bibliográfico sobre as restingas capixabas, com foco nos recursos hídricos.

2- Executar um mapeamento de alta precisão dos diferentes tipos de ambientes aquáticos límnicos existentes nas restingas capixabas, com ênfase nos ecossistemas mais ameaçados por influência antrópica.

3- Decrever os principais usos da água e elaborar um estudo de fragilidade ambiental de alguns corpos hídricos de interesse e contribuir para uma melhor adoção de políticas públicas para a sua conservação ou seus usos múltiplos sustentáveis.

4- Integrar o presente estudo com projetos acadêmicos ou outras iniciativas sejam elas originadas nas municipalidades, a partir de empreendedores locais interessados na preservação e/ou uma utilizaçao desses ecossistemas dentro de uma visão de sustentabilidade ambiental.

O projeto irá começar pelos municípios de Vila Velha e Guarapari. Gradualmente, as outras regiões litorâneas do estado serão incorporadas ao Atlas.
 

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