LAGOA JACARÉ



A Lagoa Jacaré é um ecossistema muito importante não somente porque trata-se de uma das maiores lagoas do distrito lacustre do médio rio Doce. Essa lagoa apresenta uma morfometria complexa que possibilita a existência de uma grande diversidade de biótopos (Fig. 1). A lagoa tem uma bacia de captação caracterizada por usos diferenciados tais como monocultivos ativos e abandonados de Eucalyptus, a presença de uma estrada estadual com um intenso tráfego mas que ainda aguarda a sua pavimentação. O estado precário dessa importante via de acesso ao vale do rio Doce é o responsável pela emanação de grandes quantidades de poeira (e nutrientes) que provavelmente exercem um importante impacto no lago. A presença de um clube de pescadores pode estar associada a uma série de introduções de espécies exóticas de peixes. Adicionalmente, o lago vem sendo estudado intensivamente por diferentes grupos de limnólogos e ictiólogos. Por todas essas razões, o lago se apresenta como um ambiente ideal para os estudos de hidroacústica.

Figura 1 - Dois aspectos da Lagoa Jacaré, médio rio Doce. Essa lagoa está localizada próximo a estrada que liga a cidade de Coronel Fabriciano à cidade de Baixa Verde. A lagoa possui parte de sua bacia de captação tomada por monocutivos de Eucalyptus. Existem ainda vários sitios e clubes de pesca ao longo de suas margens. Um aspecto interessante desse lago é a sua grande diversidade de biótopos e áreas úmidas o que provavelmente explica a grande diversidade de organismos planctônicos encontrados nesse ambiente.



A lagoa do Jacaré, assim como vários outros sistemas lacustres da região, é uma lagoa que vem sofrendo muito com a introdução de espécies exóticas de peixes. Entre 2003 e 2006, fizemos um extenso levantamento da ictiofauna em um conjunto de lagos da região. Os resultados comprovam que a lagoa do Jacaré possui uma baixa riqueza de espécies de peixe e podem ser vistos na tabela a seguir:



Tabela I - Riqueza de espécies de peixes em oito lagos do distrito lacustre do médio rio Doce. Dados coletados por Tiago G. Mota dentro do projeto FAPEMIG - Elaboração de um banco de dados sobre a biota aquática em Minas Gerais: medio rio Doce. Legenda: DH = D. Helvécio, Jaca= Jacaré, Cari= Carioca, Gamb= Gambazinho, Agua= Aguas Claras, Palm= Palmeirinha e Malb= Malba.

Na lagoa do Jacaré, dois peixes se sobressaem nas coletas dos pescadores (Fig. 2)

Figura 2 - Exemplares de piranha (Pygocentrus nattereri) e tucunaré (Cichla monoculus) coletados em lagos do médio rio Doce. Foto de Anderson Santos e Tiago G. Mota. Essas duas espécies de peixes estão dentre as mais capturadas pela pesca desportiva (pesca de vara) na Lagoa da Carioca.



A pesquisa com a sonda hidroacústica foi realizada no dia 27 de junho de 2008 e objetivou, em primeira linha, constatar se existe mesmo uma clara dominância de chaoboridae no (meso)zooplâncton, fato esse já destacado em pesquisas anteriores. Como o lago apresenta diversas espécies exóticas de peixes, foi também feito um inventário completo das densidades e dos padrões de distribuição diurno dos peixes nesse lago e ainda um estudo completo sobre a sua batimetria (dados ainda em análise).

A lagoa do Jacaré não fugiu à regra "espécies exóticas de peixes favorescem à dominância dos chaoboridae". Encontramos uma presença marcante dos chaoboridae nas zonas mais profundas do lago (Fig. 2). Provavelmente, as populações desse diptero realizam o movimento de migração vertical diurna nesse ambiente. Uma vez mais, ficou demonstrado que o estudo dos chaoboridae é uma necessidade fundamental na ecologia do zooplâncton lacustre do Brasil. Até o momento, existem pouquíssimos estudos sobre a ecologia desses organismos no Brasil e estamos convidando todos os zooplanctólogos brasileiros a elegerem os chaoboridae como prioridade número "1" em seus estudos.



Figura 2 - Quatro perfils da Lagoa Jacaré ilustrando diferentes aspectos da distribuição espacial das larvas de chaoboridae. Em vermelho e rosa pode-se identificar os sedimentos lacustres. As linhas verticais em azul representam os pontos onde foram tomadas as profundidades do lago. É possível observar que as larvas ficam concentradas nas regiões mais profundas da zona limnética, evitando claramente a região litorânea do lago. A camada pontilhada em equenos riscos e chuviscos em azul logo acima dos sedimentos reflete os sinais acústicos refletidos pelas enormes densidades do diptero chaoboridae presente nessas regiões mais profundas da lagoa. Os dipteros evitam ativamente a zona litorânea da lagoa talvez por estarem mais sujeitos a predação tanto por peixes quanto por outros invertebrados (p. ex. por heteroptera neustônicos) nessas regiões (painel mediano). O painel mediano oferece um bom exemplo da capacidade da sonda Biosonics DT-X para mapear os bancos de macrófitas submersas que aparecem com grande nitidez nesse painel, logo acima dos sedimentos. Como todos esses dados são georeferenciados e temos todos os dados de profundidades, podemos igualmente gerar uma carta temática com precisão sub-métrica com todo o mapeamento de macrófitas da lagoa do Jacaré. Ao compararmos todos os painéis, fica evidente que existe uma relação de associação inversa entre a presença de marcófitas submersas e as densidades de Chaoborus



A lagoa do Jacaré é uma lagoa onde a teoria da "cascata trófica invertida", recentemente proposta pelo nosso grupo de pesquisas e já em vias de publicação (Pinto-Coelho et cols. (in press) Inverted trophic cascade in tropical planktonic communities: increase of eutrophication as a consequence of exotic fish introduction in the lacustrine district of Rio Doce, Minas Gerais, Brazil. Brazilian Journal of Biology (São Carlos, Brasil)) está em plena operação. Essa teoria prevê que a introdução das espécies exóticas de peixes leva a uma completa reestruturação da cadeia trófica da zona limnética dos lagos a ela sujeitos. A introdução dos peixes piscívoros, ao contrário da teoria clássica da cascata trófica, leva a um recrudescimento da biomassa de organismos fitoplanctônicos contribuindo assim para uma piora generalizada da qualidade de água desses lagos. O esquema abaixo, originalmente apresentado no X Congresso Brasileiro de Limnologia em 2005 na cidade de Ilhéus, por Ricardo MP Coelho, nos dá uma idéia dos principais processos ecológicos envolvidos nessas transformações (Fig. 3)

Figura 3 - Esquema original da teoria da "Cascata trófica invertida" originalmente apresentada por Ricardo M. Pinto Coelho no X Congresso Brasileiro de Limnologia, ocorrido em julho de 2005 em Ilhéus e posteriormente reapresentado no evento Biodiversity : The megascience in Focus. COP 08 Associated Meeting, 15-19 Março de 2006, Fundação Getúlio Vargas, Curitiba, Paraná.. Nesse evento, a teoria foi recebida com grande entusiasmo e foi, ao final, citada como um dos primeiros exemplos de estudos aplicados em Ecologia cujas conclusões podem ser imediatamente usadas para a adoção de planos de manejo da ictiofauna voltados para a recuperação da biodiversidade de unidades de conservação no Brasil.





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Última atualização em 16 de agosto de 2017
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