Instituto de Ciências Biológicas

Depto. de Biologia Geral                

Curso de Mestrado em Ecologia Conservação e Manejo de Vida Silvestre  - ECMVS

Ecologia de Comunidades.

BIG 823 CHT = 90 hs.                                       


Prof. Ricardo M. Pinto_Coelho (coordenador)

Setor Ecologia - ICB UFMG

telefone: 3499 2605 / 3499 2574

telefax: 3499 2567

E_mail: rmpc@icb.ufmg.br

http://ecologia.icb.ufmg.br/~rpcoelho/comunidades/

 

Aulas 2005 

Dias

Aulas teóricas  e apresentação de artigos

5/4/05, 6/4/05, 11/4/05, 13/4/05, 25/4/05

Excursão ao Campo

15 a 18/4/05

Seminários

27/4/05, 04/5/05, 9/5/05

Apresentação fina do trabalho prático

09/5/05

 

 

Local das Aulas: a definir.                                                                                 

 

A - Ementa  Comunidades como unidades de estudos em ecologia; conceitos básicos de comunidades; similaridade/ dissimilaridade; modelos de distribuição de espécies: série logarítimica, distribuição log_normal e broken stick; classificação e ordenação de comunidades; estrutura de comunidades; comunidades em equilíbrio e comunidades fora de equilíbrio; medidas de biodiversidade; dinâmica de comunidades;   Observação: ementa aprovada em reunião de Câmara Departamental em 10/12/96.  

 

B - Conteúdo Programático

I) A definição de comunidade em ecologia. 

Definições preliminares: parâmetros e atributos das comunidades

Comunidades terrestres e aquáticas. 

 

II) Métodos empíricos para a análise preliminar da estrutura de comunidades.              

Análise de gradientes.              

Classificação.              

Ordenação.

 

III) Biodiversidade 

Modelos de distribuição de espécies: porque existem? 

Série logarítmica.

Distribuição log_normal.

Distribuição do broken_stick

Riqueza e abundância de espécies. 

Diversidade e equitatividade.

 

IV) Fatores ecológicos importantes na estruturação das comunidades    

Nicho ecológico e a estrutura de comunidades             

Fatores abióticos.               

Fatores bióticos.

Competição e a estrutura da comunidade.      

Predação e a estrutura da comunidade.           

Controle do tipotop_down e bottom up.

 

V) Dinâmica de comunidades            

Heterogeneidade espacial: continuidade versus. descontinuidade          

Ciclos temporais.                 

Variação diurnas.                

Variação sazonais.              

Variações intersazonais.                    

Sucessão ecológica.

Extinções e recolonizações: biogeografia de ilhas.

 

VI) Equilíbrio ecológico e as comunidades

Tipificação das formas de equilíbrio ecológico                              

a)      paradoxo do plâncton: a noção da comunidade fora do equilíbrio                     

b)      a contribuição de Tilman: a comunidade em equilíbrio 

 

C - Avaliação

 

Tipo de Atividade

Valor

Seminário

40%

Leitura de Artigos com Discussão

20%

Trabalho Prático

40%

 

 

D - Seminários

Cada aluno deverá apresentar um seminário. Estes seminários, divididos em quatro grupos temáticos, constarão de uma apresentação oralde 40 minutos acompanhada de texto redigido a partir de uma pesquisa bibliográfica original. Os temas dos seminários propostos para este ano são os seguintes: 

 

 

D-1 Estrutura de comunidades  

 S01) A fragmentação de habitas e a estrutura das comunidades. 

 S 02) O significado ecológico das espécies-chaves (keystone species) na estruturação das comunidades.  

 S 03) Impactos de eventos extremos (fogo, enchentes, secas) na estrutura das comunidades terrestres e aquáticas. 

 S 04) Tipificação, causas e conseqüências da raridade de espécies em comunidades. 

 S 05)  Padrões globais e continentais na diversidade biológica.

 S 06)  Causas do "relaxamento ecológico"  (ecological release) e seus impactos em comunidades . 

  

D-2 Equilíbrio ecológico

 S 07) Usos do solo e a perda do equilíbrio ecológico em comunidades aquáticas e terrestres.

 S 08) Introdução de espécies exóticas e o colapso de comunidades naturais.  

 S 09) Aumento na radiação UV: seus impactos em comunidades aquáticas. 

 S 10) Espécies exóticas nas U/C.'s do Brasil: como proceder para evitar o colapso da biodiversidade nas U.C's do Brasil?  

  

D-3 Biodiversidade

 S 11) Bancos de dados (bibliotecas digitais) de biodiversidade: porque eles existem, que dados devem suportar, como e por quem devem ser montados e como devem ser admnistrados? Quais são os principais bancos já existentes no exterior e no Brasil? 

 S 12) Tipologia dos impactos ambientais nas comunidades: quantificando mudanças nas estruturas e processos.  

 S 13) A perda de ("erosão) biodiversidade em unidades de conservação do Brasil: o que fazer ? 

 S 14)  O que preservar? Ecorregiões, comunidades típicas ou espécies ameaçadas?  

 

 D-4 ) Ecologia de Comunidades Aplicada -  Conservação e gestão de U.C.'s

 S 15)  Riscos da atividade científica em U.C.'s. Onde estão os limites para a pesquisa ecológica ? Relatos de acidentes já ocorridos.

 S 16) A representatividade dos biomas e ecorregiões nas UC's em Minas Gerais.

 S 17)   Manejo e gestão da biodiversidade em U.C.'s  Realidade ou mito?

 S 18) A ecologia de comunidades e a a matriz institucional  das unidades de conservação no Brasil.

 S 19) Comunidades do entorno, fragmentos e a gestão de unidades de conservação no Brasil.

    

Observações:

a)  Importante: uma cópia do texto relativo ao seminário deverá ser entregue aos alunos no dia da apresentação oral. 

b)  Todas as atividades nas quais há entrega de material escrito, recomenda-se o uso de processador de texto MS_Word versão 6 ou superior. O material gráfico e demais impressos deverão ser de ótima qualidadee cada figura e tabela reproduzida deverá ter a referência do autor original. Não recomenda-se o uso de impressoras matriciais de baixa qualidade.

 

 

E - Leitura de Artigos

No início do curso, serão distribuídos aos alunos uma lista de artigos científicos publicados em periódicos de alto impacto, disponíveis no  portal da CAPES ou na www. Estes artigos foram publicados em anos recentes e abordam não somente temas de relevância teórica em Ecologia, mas também estão diretamente relacionados ao conteúdo da disciplina. Cada aluno deverá escolher um desses artigos e se preparar a apresentá-lo oralmente bem como sustentar uma discussão de alto nível científico com os demais colegas da turma. Cada artigo tem um determinado dia para a sua apresentação (ver o cronograma), em conexão ao desenvolvimento geral da disciplina. O tempo dessa apresentação será 20-30 minutos, incluindo-se aí a discussão. Serão avaliados em cada apresentação:

a) capacidade de entendimento do idioma inglês;

b) clareza e objetividade na exposição do artigo aos colegas;

c) uso de recursos didáticos;

d) aderência ao tema;

e) capacidade de síntese;

f) noção crítica sobre a metodologia empregada e

g) percepção da questão científica abordada bem como a sua conexão com a disciplina.

 

E.1 - Lista dos artigos a serem discutidos em sala de aula (todos os artigos podem ser obtidos  na www através do Portal da CAPES).

Seleção de artigos (Ecologia de Comunidades, 2005)

1- Azevedo, F. & C. Bonecker. 2003. Community size strucuture of zooplanktonic assembladges in three lakes on the upper River Paraná floodplain, PR-MS, Brazil. Hydrobiologia 505(1-3):147-158.



2- Bakker, J.D. & S.D. Wilson. 2004. Using ecological restoration to constrain biological invasion. Journal of Applied Ecology, 41(6): 1058-73.

3- Beniston, M & D. Stephenson. 2004. Extreme climatic events and their evolution under changing climatic conditions. Global and Planetary Change, 44:1-9.

4- Bruna, E.M., H.L. Vasconcelos & S. Heredia. 2005. The effect of habitat fragmentation on communities of mutualists: Amazonian ants and their host plants. Biological Conservation 124(2):209-216.

5- Camargo, S.A.F & M. Petrere Jr. 2004. Análise de risco aplicada ao manejo precaucionário das pescarias artesanais na região do reservatório da UHE-Tucuruí (Pará, Brasil). Acta Amazônica, 34(3):473-485.

6- Fortney, R.H., M. Benedict, J. F. Gottgens, T.L. Walters, B.S. Leady & J. Rentch. 2005. Aquatic plant community composition and distribution along and inundation gradient at two ecological-distinct sites in the Pantanal region of Brazil. Wetlands Ecology and Management, 12(6):575-585.

7- Founda, D., K.H. Papadopoulos, M. Petrakis, C. Giannakopoulos & P. Good. 2004. Analysis of mean, maximum, and minimum temperature in Athens from 1897 to 2001 with emphasis on the last decade: trends, warm events and cold events. Global and Planetary Change, 44:27-38.

8- Freitas, C.E.C., M. Petrere & W. Barrella. 2005.. Natural and artificially-induced habitat complexity and freshwater fish species composition. Fisheries Management and Ecology, 12:63-67.

9- Junk, W.J. & M.T.F. Piedade. 2005. Status of knowledge, ongoing research and research needs in Amazonian wetlands. Wetlands Ecology and Management, 12(6):597-609.

10 - Leibold, M & J. Norberg. 2004. Biodiversity in metacommunities: Plankton as complex adaptative systems. Limnology & Oceanography 49:1278-1289.

11- McNaught, A.S., R.L. Kiesling & A. Ghadouani. 2004. Changes to zooplankton community strcture following colonization of a small lake bt Leptodora kindti. Limnology & Oceanography, 49:1239-1249.

12 - MacNeil, C., T.A. Jaimie, D & M. Johnson, M. J. Hatcher & A. M Dunn. 2004. A species invasion mediated through habitat structure, intraguild predation and parasitism. Limnology & Oceanography, 49(5):1848-56.

13 - Maxwell, D. & S. Jennings. 2005. Power of monitoring programes to detect decline and recovery of rare and vulnerable fish. Journal of Applied Ecology, 42:25-37.

14 - Pinto-Coelho, R.M., B. Pinel-Alloul, G. Methot, and K. Havens.  2005. Crustacean zooplankton in lakes and reservoirs of temperate and tropical regions: variation with trophic status. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic Sciences, 62:348-361.

15 - Purtauf, T., J. Dauber & V. Wolters. 2005. The response of carabids to landscape simplification differs between trophic groups. Oecologia, 142(3):458-464.

16 - Sandin, L. & R.K. Johnson. 2004. Local, landscape and regional factors structuring benthic macroinvertebrate assembladges in Swedish streams. Landscape Ecology, 19(5):501-515.

17 - Schnitzler, A., B.W. Hale & E. Alsum. 2005. Biodiversity of floodplain forests in Europe and eastern North America: A comparative study of the Rhine and Mississippi Valleys. Biodiversity and Conservation 14(1):97-117.

18- Schölder, C. & L. D´Croz. 2004. Responses of massive and branching coral species to the combined effects of water temperature and nitrate enrichment. Journal of Experimental Marine Biology and Ecology, 313(2):255-268.

19 - Souza, M & T. P. Moulton. 2005. The effects of shrimps on benthic material in a Brazilian island stream. Freshwater Biology, 50:592-602.

20 - Thomaz, S.M., D.C. Souza & L.M. Bini. 2003. Species richness and beta diversity of aquatic macrophytes in a large subtropical reservois (Itaipu, Reservoir, Brazil): the influence of limnology and morphometry. Hydrobiologia, 505(1-3):119-128.

21- Yang. Y.F., X.F. Xuang, J.K. Liu & N.Z. Jiao. 2005. Effects of fish stocking on the zooplankton community structure n a shallow lake in China. Fisheries Management and Ecology, 12:81-89.

 

 

F - Cronograma                                                                                                 

O curso será iniciado no dia 5/4/2005  e terminará em 16/5/2005.

1) 05/04/05  3ª F - (Prof. Ricardo)

Manhã:

- Apresentação curso

- AT1: Introdução à Ecologia de Comunidades.

Tarde:

- Seleção de grupos e divisão de tarefas.

- AT 02: Parâmetros e atributos das comunidades e estrutura básica das comunidades terrestres e aquáticas (formas de vida, sub-divisão de biótopos, etc).

 

2) 06/04/05 -  4ª F - (Prof. Ricardo)

Manhã:

- AT 03: Análise de gradientes, classificação e ordenação de comunidades.

- Apresentação e discussão de artigos científicos (1-4).

Tarde (Anderson Medeiros):

- AT 04: Modelos de distribuição de espécies: porque existem?  série logarítmica  distribuição log-normal e distribuição do broken_stick. 

 

3) 11/04/05  - 2ª F - (Prof. Ricardo )

Manhã:

- AT5: Riqueza e abundância de espécies, teoria geral da diversidade biológica (a equitatividade e riqueza e como os diferentes índices tratam da questão);

- AT6: Teoria geral do nicho ecológico e a estrutura de comunidades.

- Discussão de artigos e orientação ao preparo de  seminários.

Tarde:

Apresentação e discussão de artigos científicos (5-9).

 

4) 13/4/05 - 4 F - (Prof. Ricardo e Maria Margarida Marques)

Manhã:

- AT 07: A competição e a estrutura da comunidade.

- trabalhando os dados da prática

- AT 08: Dinâmica das comunidades: heterogeneidade espacial: continuidade versus. descontinuidade e heterogeneidade temporal, ciclos temporais (variação diurnas, variação sazonais, variações inter-sazonais, variações aleatórias, sucessão ecológica). 

Tarde:

Apresentação e discussão de artigos científicos (10-14).

 

5) 16/04/05:  sabado -  Excursão de campo / (coleta lagoa da Carioca) 

6) 17/4//05  domingo - Excursão de campo 2/ (coleta lagoa do Bispo)

7) 18/04/05 (2F) a 22/04/05 (6F)  Trabalhando os dados de campo (divisão dos grupos)

 

 

8) 25/4/05 2ª F - (Prof. Ricardo e Jose Fernandes)

Manhã:

- AT 09: A predação e a estrutura da comunidade e controle top_down e bottom up (teoria da cascata trófica).

- Apresentação de seminários

- trabalhando os dados da prática

- AT 10: Teoria geral do equilíbrio ecológico (persistência, resiliência, etc), o equilíbrio em diferentes escalas ecológicas.

Apresentação de artigos (15-18)

Tarde:

Apresentação e discussão de artigos científicos (18-20).

 

9) 27/04/05 4ª F - (Prof. Ricardo)

Manhã: Seminários: 1-4

Tarde: Seminários 5-8

 

10) 04/05/05  - 4ª F

Manhã: Seminários: 9-12

Tarde: Seminários 13-16

 

11) 09/05/05   2ª F

Manha: Seminários: 17-20

Tarde: Apresentação oral dos resultados da prática


G_ Literatura básica

Begon, M., J.L. Harper & C.R. Townsend. 1990. Ecology: individuals, populations and communities. Blackwell Sci. 912 p. 

Colinvaux, P. 1993. Ecology. 2nd. Ed. Wiley & Sons. 688 p. 

Krebs, C. 1994. Ecology: the experimental analysis of distribution and abundance. Harper Collins. 4th Ed. 801 p.  

Krebs, C. 1989. Ecological methodology. Harper Collins. 654 p.  Magurran, A. 1988. Ecological diversity and its measurement. Chapman & Hall, 179 p. 

Pinto_Coelho, R.M. 2000. Fundamentos em Ecologia. Artmed. Porto Alegre (RS), 252 p. Primeira Edição Revistsa.

Livro adotado no curso



Putman, R.J. 1993. Community Ecology. Chapmam & Hill. 178 p. 

Ricklefs, R.E. 1990. Ecology. Freeman. 896 p. Ricklefs, R.E. 1993. The Economy of Nature. 576 p. Freeman.  

Ricklefs, R.E. & D. Schluter (eds.). 1993. Species diversity in ecological communities. Historical and Geographical Perspectives. Chicago UP., 454p.  

Strong, D.R., D. Simberloff, L.G. Abelle & A.B. Thistle. 1984. Ecological communities. Princenton UP., 614 p.    

 

 

H - Projeto Prático

Título:  A perda da biodiversidade nas comunidades aquáticas de lagoas do Parque Estadual do Rio Doce.



Introdução:

O Brasil é um país muito rico em suas águas. Nesse país existe uma grande diversidade de recursos hídricos sendo que aqui também estão localizadas as maiores bacias fluviais da América do Sul. O estado de Minas Gerais pode ser considerado como uma das unidades da federação que maior importância possui em termos de recursos hídricos. Aqui existem, pelo menos, oito grandes bacias hidrográficas que contribuem para a formação de grandes rios da federação tais como o rio Paraná (formado pela união dos rios Grande e Paranaíba), rio São Francisco, rio Doce, rio Jequitinhonha, rio Mucuri, rio Paraíba do Sul, dentre outros.

O rio Doce é um dos principais rios de Minas Gerais e, nessa bacia, existe um sistema lacustre único no país, o distrito lacustre do médio rio Doce. Uma parte expressiva desses lagos está preservada em uma unidade de conservação que pertence ao Instituto Estadual de Florestas do Estado de Minas Gerais, IEF-MG.

Apesar de estarem localizados dentro de uma U.C., muitos desses lagos estão sofrendo uma grande degradação (queda) de sua biodiversidade. Isso é particularmente visível na ictiofauna, onde existe a dominância de dois peixes piscívoros exóticos, o tucunaré, Cichla monoculus e a piranha vermelha, Pygocentrus nattereri (Godinho, 1994).

 

 









Figura -1  - Fotografias dos peixes exóticos piranha (esq.) e tucunaré (dir.), hoje amplamente dominantes na ictiofauna dos lagos Carioca e D. Helvécio. Foto de Tiago Gripp Mota, tomada em fevereiro de 2005  no PERD. Maiores informações sobre a ictiofauna da região de estudos pode ser acessada em: http://ecologia.icb.ufmg.br/~rpcoelho/RioDoce/website/peixes.htm .

 

A invasão de espécies exóticas não se restringe aos peixes. Efeito similar pode ser visto ao nível da comunidade bêntica, onde o aparecimento e disseminação do molusco exótico, Melanoides tuberculata também está associado a uma simplificação da malacofauna bentônica.  Essa redução de espécies também pode ser vista na comunidade planctônica com a crescente dominância de cianobactérias no fitoplâncton e do ciclopóide Thermocyclops spp. no zooplancton. O rotífero exótico Kellikotia bostoniensis também foi detectado recentemente em nossas coletas (Miranda, perc. Com.). 

Em alguns lagos, tais como a lagoa da Carioca, a aparente a extrema depressão na comunidade de peixes pode estar causado um fenômeno ecológico raro, chamado "ecological release", ou relaxamento ecológico. Esse fenômeno é caracterizado pelo aumento anormal de uma ou pouca populações de presas presas potenciais que ficaram "livres" da pressão de predação que vinha sendo exercida pelos peixes nativos na comunidade do zooplancton. Nesse sentido, a alta densidade do díptero meroplanctônico  Chaoborusspp. pode ser uma evidência do fenômeno e um atestado do impacto desses organismos exóticos na estrutura da comunidade do zooplancton da lagoa.

Figura 2 - Fotomicrografia dos diferentes instares larvais de Chaoborus brasiliensis, um chaoborideo muito comum em nossas águas. Foto de Jose Fernandes Bezerra Neto a partir de espécimens coletados na Lagoa do Nado, BH.

 

 

Objetivos

Evidenciar "in loco" a perda de diversidade em dois sistemas lacustres prístinos, localizados em área de Mata Atlântica, no sudeste do Brasil, na região do médio rio Doce, Minas Gerais. Essa perda de diversidade será evidenciada através da coleta de microorganismos planctônicos de sedimentos e de organismos bentônicos (moluscos) em duas lagoas: lagoa da Carioca e lago D. Helvécio onde já foi constatada a presença dos peixes exóticos tucunaré e da piranha.

 

 

 

Metodologia

Área de estudo

 

 

Figura 3 - Área sul do parque estadual do Rio Doce mostrando o lago D. Helvécio e arredores.

  

O Parque Estadual do Rio Doce (PERD) está localizado no trecho médio do Rio Doce e é a maior reserva de mata atlântica do estado de Minas Gerais com 36.113 ha.. O parque é circundado por plantações de Eucalyptus e seu entorno é ocupado por 29 municípios (Azevedo-Barros, 2003).

 

Nessa região encontra-se um importante sistema lacustre com cerca de 158 lagos, parte dos quais encontra-se dentro do PERD (figura acima). Aproximadamente 10% da área total do PERD é ocupada por lagos que juntos somam uma superfície total de 3.529 ha (CETEC, 1981).

 

O lago D. Helvécio é o maior (6,87 km2) e mais profundo (32,5 m), com morfometria tipicamente dentrítica. Meis & Matsumura-Tundisi (1997) o classificaram como sendo um ambiente ainda oligotrófico. No entanto, o lago apresenta alguns impactos importantes dentre eles podendo ser citada a presença de espécies exóticas de peixes (Godinho, 1994) e o intenso afluxo de turistas que usam o lago para o banho, passeios e pesca esportiva (Petrúcio, 2003).

 

 

Coletas de Dados

Data e Horários de Coletas e Trabalhos de Laboratório:    

 

15 /4/2005 Sexta

            saída da UFMG (8:30 hs)

            chegada ao PERD (13:00 hs)

            preparo do mateiral (15:00 hs)

 

 16/4/2005  Sábado

            coletas em diferentes pontos da lagoa D Helvécio (9:00 hs)

            coletas no perfil vertical (15:00 hs)

            processamento das amostras (16:00)

 

 17/4/2005  Domingo

            coletas em diferentes pontos da lagoa da Carioca

            processamento das amostras (10-13:00 hs)

            volta para Belo Horizonte (17:00 horas)

 

Variáveis físico-químicas:

As seguintes variáveis serão medidas "in situ" com aparelhagem adequada: temperatura da água, transparência (disco de Secchi), radiação sub-aquática, turbidez, condutividade elétrica, pH,oxigênio dissolvido, Amostras adicionais de água serão trazidas para o laboratório (sob refrigeração) para as seguintes análises: clorofila-a, série nitrogenada (amônia, nitrito e nitrato), fósforo total e solúvel.

 

As coletas de material biológico serão as seguintes:

 

Fitoplâncton

O  fitoplâncton será coletado através de uma garrafa de Van Dorn em cada profundidade de coleta (0, 1, 3, 5, 15 e  fundo). A transportado sob refrigeração até o laboratório. Amostras qualitativas serão também tomadas com o auxílio de uma rede de plâncton de 25 um e 25 cm de diâmetro em arrastos verticais e horizontais.

 

Microzooplâncton

O microzooplâncton será coletado com uma garrafa de Van Dorn de 2,0 litros e filtrado em uma cilindrio-rede rede de 60 um de abertura nas mesmas profundidades em que houve a coleta do fitoplâncton. Em cada amostra, será filtrado um mínimo de 4,0 litros de água. O material será coletado em um frasco de 250 ml, fixado em formol 4% e transportado sob refrigeração até o laboratório.

 

Mesozooplâncton (chaoboridae)

Os dipteros tipicamente encontrados na fração do mesoplâncton serão coletado com uma rede cônica de 200 um de malha de diâmetro com obturador em duas faixas de profundidades: 0-10 metros e 12-25 mts. . As amostras serão transferidas para frascos plásticos de 250 ml, transportados sob refrigeração até o laboratório. A fixação será feita com 25 ml de formol 37%, saturado com sacarose (250 g por litro) e tamponado ao pH neutro.

 

Sedimentos

Os sedimentos das lagoas serão coletados com o amostrador de sedimentos da marca Hydrobios.  Os extratos de (5-10 cm) da coluna de sedimentos amostrada serão extraídos indivivualmente e imediatamente colocados em frascos e fixados com formol 4% (conc. Final).

 

Moluscos

Os moluscos serão amostrados com amostradores específicos (conchas metálicas dotadas de um cabo de madeira). Os organismos coletados serão imediatamente transferidos para frascos e fixados de modo apropriado.

 

5) Logística

A turma deverá formar uma equipe (subdividida grupos) que deverá ser responsável pela logística de campo e de laboratório (programar, separar material a ser utilizado, etc) bem como organizar o trabalho segundo um cronograma previamente definido onde sejam previstas as seguintes etapas:

 

b.1) planejamento

b.2) execução do trabalho

b.3) coletas de dados

b.4) processamento das informações

b.5) análise os resultados 

b.6) discussão dos dados tendo por base a literatura existente, da qual uma pequena parte, por princípio, será fornecida pelo professor;  

 

 

6) Aspectos formais:  Cada grupo apresentará um painel contendo os resultados da sua pesquisa. O painel deve conter: introdução, objetivos, área de estudo, metodologia, resultados com gráficos, discussão e conclusãoes.  Nao serão aceitas figuras feitas à mão bem como de qualidade inferior. Apresentar paineis compostos no powerpoint.  Usar, de preferência, impressoras laser ou jet_ink. O estilo e o correto uso do vernáculo serão avaliados. Figuras poderão ser desenhadas com software gráficos tais como o : FREELANCE, SIGMAPLOT bem como os aplicativos gráficos de planilhas mais usadas tais como o EXCEL (Microsoft). Para os cálculos estatísticos sugere_se o uso dos seguintes pacotes: SYTAT, SAS, SPSS ou ESTATISTICA. Todas as figuras e tabelas deverão ter a mesma editoração eletrônica, evitando_se o uso de vários fonts e galerias provindas de aplicativos diferenciados e não compatíveis visualmente entre si. Sugere_se importar e editar todas as figuras usando um software de finalização editorial tal como o FREELANCE (Lotus), o Coreldraw ou PowerPoint (Microsoft).    

 

7) Termo de compromisso:

 Nesta disciplina procuramos alertar o estudante quanto à necessidade de desenvolver um senso de ética e conduta profissional, uma capacidade de trabalhar em grupo e de se autoorganizar. Portanto, no painel deve apenas constar os nomes dos alunos que realmente participaram no sub_projeto. 

 

8) Apresentação do painel

Será organizada uma sessão conjunta de apresentação dos resultados do projeto que deverão ter a forma de um artigo científico com introdução, metodologia, resultados, discussão, literatura e figuras. Havera ainda uma apresentação oral dos resultados por cada um dos sub-grupos no dia

09/05/2005

Apresentação Projetos   

Nessa ocasião todos os membros de cada grupo deverão estar presentes e participar das discussões. A apresentação terá início as 9:00 horas em local previamente marcado. Haverá espaço para uma breve exposição oral de cada grupo (15 minutos).   

 

9) Literatura Citada

Azevedo-Barros, C. 2003. Fatores que influenciam a variação temporal da biomassa fitoplanctônica em um lago tropical profundo (Lago D. Helvécio). Dissertação de mestrado. ECMVS. 72 p.

Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais - CETEC, 1981. Programa de pesquisas ecológicas no parque estadual do Rio Doce. 285 p.

Godinho, A. 1994 In: Pinto_Coelho, R.M. et al, eds. Ecology and Human Impact on Lakes and Reservoirs in Minas Gerais. SEGRAC.   Belo Horizonte,

Meis, M.R. & Tundisi, J.G. 1997. Geomorphological and limnological processes as a basis for the lake tipology. The middle Rio Doce lake system. In: Limnological studies in the Rio Doce Valley lakes. Brazilian Academy of Sciences. 25-50 p.

Petrúcio, M. 2003. Produtividade bacterioplanctônica e fitoplanctônica nos ecossistemas aquáticos do trecho médio da bacia do Rio Doce-MG. Tese de doutorado, ECMVS. 111 p.

 

 

                                                                        Belo Horizonte, 23 de março  de 2005

 

   

Ricardo M. Pinto_Coelho

Depto. Biologia Geral

ICB - UFMG